PROFESSOR: QUE PROFISSÃO É ESSA?
É interessante observar a dinâmica da vida profissional de professores, pela multiplicidade de atribuições que dia após dia são agregadas à rotina e minam o trabalho docente.
Claro, não se pode generalizar. Falo a partir de vivências como professora e observações ao longo desse exercício, e me pergunto: Qual o status profissional do professor? Qual seu papel na escola?
Em treze (13) anos de magistério, já assisti e vivenciei muita coisa, mas acredito não ter visto tudo.
Comecemos pela relação hierárquica dentro da escola, o que é algo bastante pitoresco. Não é surpresa para ninguém que tal relação se dá verticalmente e à moda antiga. Contestações e críticas são mal vistas, o que é triste se pensamos em profissionais formadores de opinião. A partir de tal posicionamento, passa-se a ser Persona non Grata. Isso se não ocorrer registro em ata, de redação duvidosa e tendenciosa. Uma prática bastante comum.
Muitas escolas trabalham com uma espécie de corporativismo, no qual integrantes protegem-se mutuamente sem interesse na veracidade de fatos, e os favorecimentos internos integram o quadro funcional.
Desempenhar bem as funções dentro da área de formação, estudar, informar-se, trabalhar junto a alunos no intuito de exercer a profissão escolhida. Esse deveria ser o papel do professor na escola. Mas, concomitantemente à essa função, somam-se certas “obrigações”, as quais não constam nos currículos de graduação.
Tais propostas dizem da arrecadação de fundos para os caixas escolares, por exemplo. Rifas intermináveis, que ano a ano são realizadas, as quais professores devem distribuir e recolher, senão comprar.
Pergunto: Manter a escola não é papel da mantenedora?
Claro que para se rifar algo é necessário obtê-lo. Então, listas de doações, principalmente na Páscoa, são elaboradas para ver com que cada professor contribuirá.
Pergunto: Eu não trabalho na escola (como qualquer profissional) para ganhar meu salário? Se tiver que fazer doações, isso não deveria ser uma iniciativa pessoal?
A arrecadação de brindes junto a empresas para as Festas Juninas é outro dos múltiplos trabalhos de professor. Evidente que ele poderá delegá-lo aos estudantes.
Há anos atrás até flúor na boca dos alunos os professores, de todas as áreas, colocavam. Algo bastante constrangedor, pelo menos para mim, e para alguns alunos que se recusavam a deixar.
Todas essas colocações são menores diante das interferências que pessoas não habilitadas tentam impor a nosso trabalho pedagógico. E não são poucas.
A burocracia, como em todos os órgãos existentes no país, toma conta das atividades mais elementares. Não se resolve nada sem antes passar por meia dúzia de setores. Mas o que se gasta de tempo e papel... Tudo isso me leva à conclusão que há pessoas que não têm o que fazer e, por isso, o preenchimento de tantos formulários.
Será que atribuições de menor valor não estão comprometendo o verdadeiro trabalho pedagógico?
Em determinadas datas, o professor deve se transformar numa “usina de idéias” para a realização de “eventos” e “festejos” que se repetem todos os anos, já não se sabe o motivo. Ora, essa! Professor ou promotor de eventos? Que história é essa de escola show? Todos na escola. A pergunta é : Fazendo o quê?
Não basta estar nos limites da escola para ser um estudante, assim como não basta freqüentar aulas em que pouco importa o que está sendo ensinado. É preciso consciência da complexidade dos processos. E isso demanda tempo, tempo que é desperdiçado com atividades superficiais e infrutíferas.
E não me venham falar em socialização, pois os analfabetos funcionais estão aí, prova do insucesso da escola, mas todos socializados.
Será que tudo isso não acontece em detrimento do aprendizado do aluno? Se pensarmos no tempo e esforço consumidos em tais tarefas, fica evidente que sim.
Na verdade, a confusão em torno das atribuições profissionais do professor - em parte pela falta de posicionamento crítico da categoria, em parte pelo oportunismo que emana dos mais diversos segmentos - transformam o profissional do magistério numa espécie de “faz tudo”nas escolas. Afinal, sempre foi assim, dizem uns. E quando iremos tornar o magistério uma profissão de verdade? Esse parentesco com o sacerdócio não tem mais cabimento nos dias atuais.
E por isso não estranho quando vejo alguma colega limpando a sala para torná-la mais agradável para se estar, espécie de prolongamento do seu lar, resignação ancestral e passividade. Passividade bem-vinda para o comodismo de alguns. E assim caminha o magistério, cheio de novas e modernas teorias libertadoras e libertárias.