domingo, 3 de abril de 2011

Matemática

MATEMÁTICA

Um homem, que redondamente rodava a vida na pressa para acompanhar o rodar do relógio, sabia que a roda do carro o levaria mais depressa ao centro da cidade, para ele, o centro da vida. Fazia aquele trajeto com freqüência, e naquele dia não poderia rolar a bola com o gordo filho, que de tanto necessitar do tempo do pai, chamava a atenção pela aparência, engolindo redondamente tudo que encontrava pela frente.
O veloz homem não tinha tempo para pensar no tempo. Precisava viver, antes que outro chegasse primeiro ao destino que era seu. Dizer viver é dizer a verdade, pois o que ele menos fazia era viver. Para melhor dizer, ele era vivido pela vida. Vida de correria, na busca apressada de coisas a acumular.
Ele desejava continuar sendo o senhor de um amontoado de tijolos que formavam vários quadrados e, dentro dos quadrados, objetos: redondos, quadrados, triangulares dos mais distintos materiais, todos sólidos, feitos para atingirem a eternidade da insatisfação.
Era necessário dar Educação ao filho. Para isso pagava uma gorda quantia a outro amontoado de tijolos que cuidava do futuro dos homens. Tal instituição apresentava-se sob o nome de Carpe Die, e era capaz de transformar a vida das pessoas.
Mas ele era um homem respeitado. Um exemplo de como se adquire respeito entre os homens. Era responsável.
A úlcera que combatia há anos era responsabilidade sua, a obesidade do filho, a competição desenfreada, um possível infarto também.
Sua gravata era o status para vencer o relógio. Ele queria encontrar o futuro. Quando o futuro chegasse, tudo seria diferente. Ele seria um homem realizado e feliz. E, por isso, corria mais. Para garantir o futuro. Com ele, corriam as horas, os dias, os meses, os anos e as outras pessoas. Todos passavam apressados como um vendaval. Todos desejavam uma oportunidade de encontrar o futuro.
Pois naquele dia, no centro da cidade, nosso amigo ainda não conhecia o seu futuro. E o tempo, nosso dono absoluto, se apresentou. Sentia girar a cabeça, igual ao seu relógio. Numa vertigem, ergueu o rosto e, entre os altos edifícios, conseguiu avistar o céu. Não o céu que conhecia pela previsão meteorológica, e sim, o céu da contemplação: um céu límpido. Bucólico, não? Não, triste, pois a todos espera uma figura geométrica retangular. E o futuro computa apenas menos um, questão de matemática.

3 comentários:

  1. Parabéns pelos escritos Professora Bianca!

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  2. MARAVILHOSO texto que fala da vida e da morte...
    ADOREI!
    Bjosssssssssssssssss

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  3. Nossa! Teu blog agora está maravilhoso Bianca ... Temos que trocar mais ideias pelo mundo virtual ... Não suma!!!

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